OS INSETOS, AS OLIMPÍADAS E O INSTITUTO BIOLÓGICO
Atletas humanos precisam treinar a vida toda para desenvolverem capacidades físicas muito acima da média de sua espécie, e ainda assim, deixam muito a desejar se comparados com o que milhões de anos de evolução deram a outras espécies na natureza.
No mundo dos insetos, por exemplo, existe uma variedade de representantes que têm dons para quebrar recordes em diversas qualidades físicas. Diferente dos esportistas humanos, contudo, a competição evolucionária almeja a sobrevivência, não medalhas.
Na competição de halterofilismo, por exemplo, teríamos o recordista besouro rinoceronte, e logo atrás, a formiga saúva. Quando definimos “recorde de força”, não estamos procurando aquele que levanta mais peso, mas sim, aquele que levanta mais vezes a proporção de seu próprio peso. O halterofilista lituano Zydrunas Savickas, é capaz de levantar 2,3 vezes o seu próprio peso. Por outro lado, o besouro rinoceronte levanta 850 vezes o seu próprio peso. A formiga saúva é mais fraca: levanta 20 vezes o seu próprio peso. Ainda assim, é algo impensável para um ser humano, a não ser em quadrinhos e filmes.
Mas performance física não se restringe a levantamento de pesos. O levantamento do próprio corpo, como em um salto, também é digno de nota, entre os insetos. Quando definimos o maior salto, estamos falando daquele salto que supera mais vezes a altura do saltador. Entre os humanos, o recordista em salto com vara é o francês Renaud Lavillenie, que atingiu a marca de 6,16 metros de altura. A pulga, por outro lado é capaz de saltar 33cm de distância, o que equivale a 220 vezes a sua própria altura. Em escala humana, isso equivaleria a atravessar um campo de futebol com apenas um salto. Logo atrás da pulga, vem o gafanhoto, que pode saltar 20 vezes a o seu tamanho.
Outra incrível qualidade física encontrada entre os insetos é a velocidade. O jamaicano Usain Bolt é reconhecido como o ser humano mais rápido do mundo, entretanto, os insetos apresentam vários candidatos ao título de maior velocista. O gafanhoto do deserto é capaz de se deslocar a uma velocidade de 33 quilômetros por hora. A borboleta monarca percorre, em média, 50 quilômetros por dia durante as suas migrações. As duas espécies de besouro tigre australiano, Cicindela eburneola e Cicindela hudsoni, alcançam, respectivamente, a marca de 6,8 e 9 quilômetros por hora.
Contudo, velocidade é algo proporcional se considerarmos o tamanho da criatura e a distância que percorre. A Cicindela eburneola percorre uma distância menor, mas o seu tamanho em si também é menor. Essa espécie é capaz de percorrer 171 vezes o seu tamanho por segundo, enquanto sua prima maior percorre 120 vezes o seu tamanho por segundo. Para efeito de comparação, o guepardo (chita) corre 16 vezes o seu tamanho por segundo, enquanto Usain Bolt, com um 1,96 de altura, percorre 6 vezes o seu tamanho por segundo.
Outro inseto velocista é a barata, podendo atingir 5,4 quilômetros por hora, isso equivaleria a uma velocidade de 150 quilômetros em tamanho humano. Além disso, esse inseto pode driblar objetos em uma velocidade de 25 vezes por segundo. Percebe-se por que é difícil matar uma barata. A rapidez da barata é aproveitada no “baratódromo”, presente no “Instituto Biológico” em São Paulo, onde se realiza a “corrida de baratas”.
Na modalidade de natação, os humanos possuem diferentes recordes, pois a competições diferem na distância percorrida e no estilo de nado (costas, peito, crawl, etc...), mas vale destacar o americano Michael Phelps, que detêm recordes em cinco modalidades. Além da natação, o remo, ou canoagem, é outra modalidade aquática na qual os Neozelandeses, Hamish Bond e Eric Murray, são donos do recorde mundial.
Ambas são provas de velocidade. Existe um inseto que combina ambas as características: O barbeiro Notonectídeo utiliza suas patas compridas traseiras como remos para se deslocar na água, e nadam de costas como um estilo de natação.
Os insetos também são bons lutadores. Entre as lutas de grappling (judô e wrestling), os grandes campeões são os besouros. Assim como as lutas agarrados existem em todas as culturas, as espécies de besouro são lutadoras por natureza. Os machos disputam o direito de acasalar com o maior número de fêmeas, direito esse que é decidido em uma contenda. Essa é a razão pela qual os machos apresentam estruturas próprias para o combate, como chifres e pinças (um fenômeno conhecido como dimorfismo sexual).
Assim como ocorre com os wrestlers humanos, a luta entre besouros machos é uma troca de forças até que um consiga derrubar o outro com as costas no chão (a diferença é que humanos precisam cair por cima de seus adversários para que não se levantem, enquanto que, para um besouro, basta deixar o adversário de patas para o ar).
No Japão, a natureza combativa das espécies kuwagata e kabutonoshi é aproveitada em competições organizadas por humanos (sem mortes).
Insetos não são apenas bons wrestlers, mas grandes strikers (golpes traumáticos) também. O louva-a- deus, por exemplo, inspirou um estilo de kung-fu com os seus movimentos das patas dianteiras. Diz a lenda que o criador desse estilo testemunhou o embate entre um louva-a- deus e uma cigarra. A cigarra era mais corpulenta que o louva-a-deus, mas este conseguiu prender a adversária com suas patas. O estilo mantis (louva-a-deus), utiliza as mãos em posição similar às do inseto e apara os golpes inimigos a partir dessa posição.
Percebe-se que a maior fábrica de atletas é a evolução, e que o maior prêmio é a sobrevivência da espécie. Seres humanos podem superar cada vez mais suas limitações, mas não podem se igualar ao que a natureza produziu.
Parte desses insetos “Olímpicos” pode ser vista no Museu do Instituto Biológico, integrando a exposição Planeta Inseto, único Jardim Zoológico dessa natureza no Brasil.
O Instituto Biológico é um órgão vinculado a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento.
Você pode conhecer mais sobre esse projeto visitando o site www.planetainseto.com.br .
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